.
Um Conceito Racional No
Mundo Filosófico
Trabalho apresentado ao Curso de Administração da UNEF – Unidade de Ensino Superior de Feira
de Santana, para a disciplina de Filosofia.
Profº. Edivaldo Correia Bastos
Feira de Santana - BA
2011
1
INTRODUÇÃO
Razão é a competência da mente humana que consente chegar a
deduções a partir de suposições ou premissas. É, entre outros, um dos recursos
pelo qual os seres racionais propõem razões ou explicações para causa e efeito.
A razão é associada à natureza humana em particular.
A razão consente
identificar o operar conceitos em abstração, resolver problemas, trabalhar a
coerência ou contradição entre eles e destacar ou formar novos conceitos de
forma ordenada e orientada para objetivos. Nela está contido: raciocinar,
aprender, compreender, ponderar e julgar.
Razão
significa pensar e falar ordenadamente, com medida e proporção, com clareza e
de modo compreensível para outros; é a maneira de organizar a realidade pela
qual esta se torna compreensível.
A Filosofia certifica-se
que somos seres racionais e que nossa vontade é racional, por identificar razão
e causa e por crer que a realidade trabalha de acordo com relações casuais.
“É conhecida a célebre frase de Pascal, filósofo francês do século
XVII: ‘O coração tem razões que a razão desconhece’. Nessa frase, as palavras razões e razão não têm o mesmo significado, indicando coisas diversas. Razões são motivos do coração, enquanto razão é algo diferente de coração; este
é o nome que damos para as emoções e paixões, enquanto razão é o nome que damos à consciência intelectual e moral” (CHAUÍ,
Marilena. 2000: pag. 70).
Apesar de ter sido discípulo de Platão durante vinte anos,
Aristóteles divergia profundamente de seu mestre em sua teoria do conhecimento.
Isso pode ser atribuído, em parte, ao profundo interesse de Aristóteles pela
natureza, sem descuidar dos assuntos humanos, como a ética e a política.
Para Aristóteles, o duelo entre os princípios opostos de Platão
entre mundo sensível e mundo das idéias era um meio artificial dispensável para
responder à pergunta sobre o conhecimento verdadeiro. Nossos pensamentos não
surgem do contato de nossa alma com o mundo das idéias, mas da experiência
sensível. Dizia o filósofo: “Nada está no intelecto sem antes ter passado pelos
sentidos”. O que nos distingue como seres racionais é a capacidade de conhecer,
e esta está ligada à capacidade de entender o que a coisa é no que ela tem de
essencial. Por exemplo, se afirmo que
todos os cavalos são brancos, vou deixar de fora um grande número de animais
que poderiam ser considerados cavalos, mas que não são brancos. Por isso, ser
branco não é algo essencial em um cavalo, mas você nunca encontrará um cavalo que
não seja mamífero, quadrúpede e herbívoro.
Para muitos filósofos, a razão não é apenas a competência moral e
intelectual dos seres humanos, mas também uma propriedade ou qualidade primitiva
das próprias coisas, existindo na própria realidade. Nossa razão pode conhecer
a realidade, que é a Natureza, a sociedade, a História, porque ela é racional
em si mesma.
Existem dois tipos de razão:
a)
Razão
objetiva – é a realidade racional em si mesma; é a afirmação de que o
objeto do conhecimento ou a realidade é racional;
b)
Razão
subjetiva – é a capacidade intelectual e moral dos seres humanos; é a
afirmação de que o sujeito do conhecimento e da ação é racional.
Para muitos filósofos, a Filosofia é o momento do encontro, do
acordo e da harmonia entre as duas razões ou racionalidade. Desde os primórdios
da Filosofia, a origem da palavra razão
está em oposição a quatro outras atitudes mentais:
a)
Ao conhecimento ilusório, de mera aparência que não alcança a
realidade, porque a ilusão provém de nossos costumes, preconceitos e da
aceitação imediata das coisas tais como parecem ser. As ilusões criam opiniões
que variam de pessoa para pessoa;
b)
Às emoções, sentimentos e paixões, que são cegas, caóticas,
desordenadas e contrárias umas das outras, porque a razão é vista como uma
atividade ou ação;
c)
Às crenças religiosas, porque a verdade é obtida pela fé numa
revelação divina, não dependendo do trabalho de conhecimento realizado pela
nossa inteligência;
d)
Ao êxtase místico, no qual o espírito mergulha nas profundezas do
divino e participa dele, sem qualquer intervenção da inteligência ou da
vontade, porque esse êxtase exige um estado de abandono do estado consciente
para entregar-se ao abismo infinito.
Segundo
Hegel, a razão rege o mundo, a história universal transcorre racionalmente. É a
razão que constitui a história.
2 A ATIVIDADE RACIONAL
A
Filosofia aponta duas grandes modalidades da atividade racional, desempenhadas
pela razão subjetiva ou pelo sujeito do conhecimento, que são elas:
2.1 A intuição
A intuição é a razão intuitiva que discorre uma
realidade para conhecê-lo, ou seja, realiza vários atos de conhecimento até
conseguir captá-lo, e que chega ao objeto passando por etapas sucessivas de
conhecimento e que através dos esforços de aproximação chegam ao conceito do
objeto. Também consiste num único ato do espírito, que capta por inteiro e de
uma só vez o objeto, sem necessidade de provas ou demonstrações para saber o
que conhece.
Nela, a razão capta todas as
relações que constituem a realidade e a verdade da coisa intuída; É a inteligência
que traz discernimento e compreensão. Por exemplo, tem um médico quando faz um
diagnóstico e apreende de uma só vez a doença, sua causa e o modo de tratá-la.
Os psicólogos usam o termo insight para
definir o momento em que percebemos, num só lance, um caminho para a solução de
um problema científico, filosófico ou vital.
A razão intuitiva pode ser de três
tipos:
a)
A intuição sensível ou empírica - é o conhecimento direto e
imediato das qualidades sensíveis do objeto externo: cores, sabores, odores,
paladares, texturas, dimensões, distâncias. Ela é psicológica por referir-se
aos estados do sujeito do conhecimento enquanto um ser corporal e psíquico
individual, ou seja, é também o conhecimento direto de estados internos ou
mentais: lembranças, desejos, sentimentos e imagens. A intuição sensível é,
portanto, um tipo de conhecimento que possuímos em todos os momentos de nossa
vida: por exemplo, com um rápido olhar podemos perceber uma sala de aula, suas
paredes, o teto, alguém diante de um grupo de alunos as carteiras, a lousa,
etc. Em uma rápida ação visual qualquer um é capaz de olhar para alguém e notar
a cor dos olhos, dos cabelos, o tamanho, a compleição física da pessoa, o que
ela veste, o que ela calça, etc., de modo que, com essa intuição empírica,
temos essa pessoa por inteiro e de uma só vez diante de nós.
b)
A intuição intelectual - é o
conhecimento direto e imediato dos princípios da razão (identidade,
contradição, terceiro excluído, razão suficiente), das relações necessárias
entre os seres ou entre as idéias, da verdade de uma idéia ou de um ser. Um
exemplo é quando eu sei, sem necessidade de provas e demonstrações que o
amarelo é diferente do azul, ou que o todo é maior que as partes.
c)
A intuição emotiva - é o
conhecimento com a qual, em conjunto com o sentido ou significado de algo,
apreendemos também seu valor, ou seja, com a idéia compreendemos, intuímos
igualmente se algo é verdadeiro ou falso, justo ou injusto, coerente ou
incoerente, feio ou belo, bom ou mau, etc.
2.2 O raciocínio
É a razão discursiva que, ao contrário da intuição, é um conhecimento
que exige provas, comprovações e demonstrações, realizando-se igualmente por
meio de provas, comprovações e demonstrações das verdades que estão sendo
conhecidas e investigadas. O raciocínio não é um ato intelectual, mas vários
atos intelectuais ligados internamente, desenvolvendo um processo de
conhecimento.
Podemos usar como exemplo um
caçador na floresta, ao ver evidências de pegas e pedaços de animais pequenos
devorados há poucas horas, de que pode haver nos arredores uma onça. Partindo
dos indícios, o caçador raciocina para chegar a uma conclusão e tomar uma
decisão (a de se defender, mesmo desistindo de adentrar na floresta).
Entretanto, quando um raciocínio é realizado a partir de condições tais que a
individualidade psicológica do sujeito do conhecimento e a singularidade do
objeto são substituídas por critérios de universalidade e generalidade, temos a
dedução,
a indução
e abdução.
a)
A dedução - consiste em partir de
uma verdade já conhecida, e que opera como um princípio geral ao qual se
submetem todos e quaisquer casos a serem demonstrados a partir dela. Podemos
partir de uma verdade já conhecida para demonstrar que ela pode ser aplicada a
quaisquer casos particulares, desde que sejam iguais.
Exemplo:
Definição: Todos os estudantes da UNEF passarão nas
provas;
Caso particular: Eber é um estudante da UNEF;
Dedução: Logo, Eber passará nas provas.
b)
A indução - consiste em partir de
casos particulares iguais ou semelhantes e buscamos uma lei geral, uma
definição geral ou uma teoria geral que seja capaz de explicar todos os casos
particulares, realizando uma oposição ao caminho da dedução.
Exemplo:
1ª
Experiência: colocamos água no fogo e observamos que ela ferve e se transforma
em vapor;
2ª
Experiência: colocamos leite no fogo e observamos que ela ferve e se transforma
em vapor;
3ª
Experiência: colocamos vários tipos de líquido no fogo e observamos que eles
fervem e se transformam em vapor.
Conclusão
indutiva: todo líquido que for levado ao fogo irá ferver e se transformar em
vapor.
c)
A abdução - é uma espécie de
intuição que se desenvolve passo a passo para chegar a uma conclusão, através
da busca de uma interpretação racional de sinais, de indícios, de signos. Dois
exemplos mais precisos para identificar a abdução são os casos de investigação
policial e de historiadores arqueólogos.
De
modo geral, podemos entender que a indução e a abdução são procedimentos
racionais que empregamos para a aquisição
de conhecimentos, enquanto a dedução é o procedimento racional que empregamos
para verificar ou comprovar a verdade de um conhecimento já
adquirido.
3
A
RAZÃO: INATA OU ADQUIRIDA?
Durante séculos, a Filosofia ofereceu
duas respostas para explicar de onde vieram os princípios racionais, a
capacidade para a intuição e para o raciocínio, se nascemos com eles ou se
teriam sido dados pela educação e costume, ou até se seriam adquiridos através
da experiência. A primeira ficou conhecida como inatismo e a segunda, como empirismo.
3.1 Inatismo
O
inatismo afirma que nascemos já trazendo em nossa inteligência não só os
princípios racionais, mas também algumas idéias verdadeiras, que, por
acompanharem o homem desde seu nascimento, são idéias inatas.
O
inatismo teve como principais defensores os filósofos Platão (séc. IV a.C.) e
Descartes (sec. XVII). Para o pensador grego, a validade do inatismo é
legitimada por sua teoria das idéias, que afirma nascer o homem com a razão e
as idéias verdadeiras, de modo que a Filosofia, enquanto atitude de
conhecimento, nada mais faz do que relembrar sobre essas idéias.
3.1.1 Inatismo platônico
Platão defende a tese do inatismo da
razão em várias de suas obras, mas as passagens mais conhecidas estão nos
diálogos Mênom, em que Sócrates dialoga
com um jovem escravo analfabeto, fazendo-lhe perguntas certas na hora certa até demonstrar sozinho
um difícil teorema de geometria, e A República, em que Platão desenvolve
uma teoria que já fora esboçada no Mênon, a teoria das idéias verdadeiras, e que
a Filosofia nada mais faz do que nos relembrar essas idéias.
"Conhecer,
diz Platão, é recordar a verdade que já existe em nós; é despertar a razão para
que ela se exerça por si mesma. Por isso, Sócrates fazia perguntas, pois,
através delas, as pessoas poderiam lembrar-se da verdade e do uso da razão. Se
não nascêssemos com a razão e com a verdade, indaga Platão, como saberíamos que
temos uma idéia verdadeira ao encontrá-la? Como poderíamos distinguir o
verdadeiro do falso, se não nascêssemos conhecendo essa diferença? (CHAUÍ, Marilena. 2000: pag. 86).
3.1.2 Inatismo cartesiano
René Descartes, séculos depois,
discute a teoria das idéias inatas, afirmando que tais idéias são inteiramente
racionais e podem existir apenas porque o ser humano já nasce com elas. São
exemplos a idéia do infinito e as idéias das matemáticas, posto que ninguém tem
qualquer experiência do infinito, e a matemática, por poder trabalhar
teoricamente com idéias tais como a de uma figura de mil lados (a qual jamais
poderemos ter a percepção). Para Descartes, essas idéias são "a assinatura
do Criador" na mente das criaturas racionais, de modo que a razão é
ferramenta natural inata que permite ao homem conhecer a verdade.
Descarte
afirma em suas obras que nosso espírito possui três tipos de idéias que se
diferenciam segundo sua origem e qualidade:
a) Idéias adventícias - são idéias vindas
de fora, que se originam de nossas sensações, percepções, lembranças; são
idéias que nos vêm por termos tido a experiência sensorial ou sensível das
coisas a que se referem. Por exemplo, a idéia de árvore, de pássaro, de
instrumentos musicais, de móveis, etc.
b) Idéias fictícias - são aquelas que
criamos em nossa fantasia e imaginação, compondo seres inexistentes com pedaços
ou partes de idéias adventícias que estão em nossa memória. Por exemplo: cavalo
alado, fadas, unicórnios, elfos, duendes, dragões, Super-homem, etc.
c) Idéias inatas - são aquelas que não
poderiam vir de nossa experiência sensorial porque não há objetos sensoriais ou
sensíveis para elas, nem poderiam vir de nossa fantasia, pois não tivemos
experiência sensorial para compô-la a partir de nossa memória. Por exemplo, a
idéia do infinito (pois não temos qualquer experiência do infinito) e as idéias
matemáticas (uma figura de mil lados, o quiliógono, o qual não temos a
percepção desta figura).
3.2 Empirismo
O
empirismo alega que a razão, a verdade e as idéias racionais são adquiridas
pelos homens por meio da experiência. Antes dela, nossa razão é como uma
"folha em branco" até que os conhecimentos humanos comecem com a
experiência proveniente dos sentidos, com as sensações captadas por nossos
órgãos dos sentidos, excitados pelos objetos exteriores que nos possibilitam
ver cores, sentir sabores e odores, ouvir sons, etc. Tais sensações se reúnem
para formar as diferentes percepções, que, então, se combinam, até percebermos,
por exemplo, um único objeto que nos chegou através de várias e diferentes
sensações. Se, por um lado, a experiência escreve e grava em nossa mente as
idéias, a razão associa-as, combina-as ou separa-as, constituindo todos os
nossos pensamentos.
Os
mais famosos Filósofos que defenderam a tese empirista são os ingleses Francis
Bacon, John Locke, George Berkeley e David Hume. Eles alegavam que nossos
conhecimentos começam com a repetição por semelhança de algumas sensações,
fazendo-nos criar o hábito de associá-la. Essas associações são as idéias.
As
idéias trazidas pela sensação, pela percepção e pelo hábito são levadas à
memória e partir disso a razão as apanha para formar os pensamentos. Essas
idéias são gravadas em nosso espírito pela experiência, e a razão irá
associá-las, combiná-las ou separá-las, formando todos os nossos pensamentos.
Por isso, David Hume dirá que a razão é o hábito de associar idéias, seja por
semelhança, seja por diferença.
A
razão pretende alcançar a realidade em seus aspectos universais e necessários,
tal como é em si mesma, considerando que o que conhece vale como verdade para
todos os tempos e lugares (universalidade) e indica como as coisas são e como
não poderiam ser de outra maneira.
4 OS PROBLEMAS DO INATISMO E DO
EMPIRISMO
Sem
dúvida, dizia o filósofo Platão, os seres humanos variam muito nas suas
opiniões sobre o justo e a justiça, pois essas opiniões se formam por experiência
e esta varia de pessoa para pessoa, de época para época, de lugar para lugar.
Por isso mesmo, são simples opiniões
(CHAUÍ, Marilena. 2000: pag. 70).
Descartes
avalia que a realidade natural é administrada por leis universais e necessárias
do movimento, ou seja, que a natureza é uma realidade mecânica, e que essas
leis são idéias racionais deduzidas de idéias inatas simples e verdadeira. Ora,
a realidade permanece a mesma e, no entanto, as idéias que a explicavam
perderam a validade. Ou seja, o inatismo se depara com o problema da mudança
das idéias, feita pela própria razão, e com o problema da falsidade das idéias,
demonstrada pela própria razão.
Já
o empirismo, por sua vez, se depara com um problema insolúvel: se as ciências
são apenas hábitos psicológicos de associar percepções e idéias por semelhança
e diferença, bem como por contigüidade espacial ou sucessão temporal, então as
ciências não possuem e não explicam verdade e objetividade alguma.
O
ideal racional corresponde à realidade das coisas e não depende de nossos
gostos, opiniões, preconceitos, fantasias, costumes e hábitos. Ela não pode ser
subjetiva, mas o empirista não oferece garantia através das ciências.
Esses
problemas promovem periodicamente o aparecimento de uma corrente filosófica conhecida
como ceticismo, para o qual a razão
humana é impossibilitado de conhecer a realidade e por isso deve rejeitar a
verdade. O cético sempre revela explicitamente dúvidas toda vez que a razão
tenha pretensão ao conhecimento verdadeiro do real.
Os
problemas criados pela divergência entre inatistas e empiristas foram
resolvidos em dois momentos: antes e depois da filosofia de David Hume.
4.1
A solução de Leibniz
Estabelecido no século
XII, antes de David Hume, Leibniz distinguiu conceitos entre verdades de razão e verdades de fato.
a) Verdades de razão - enunciam que uma coisa é, não podendo de modo
algum ser diferente do que é e de como é. O exemplo mais evidente são as idéias
das matemáticas, ou seja, é impossível que o triângulo não tenha três lados e
que a soma de seus ângulos não seja igual a soma de dois ângulos retos; é
impossível que 2 + 2 não seja igual a 4.
As verdades de razão são
inatas, o que não significa que uma criança venha a nascer já conhecendo a
matemática e como aplicar suas operações, e sim, significa que ela nasce com a
capacidade racional, puramente intelectual, para conhecer idéias que não
dependem da experiência para serem formuladas e para serem verdadeiras.
b) Verdades de fato - dependem da experiência porque enunciam idéias
que são obtidas através da sensação, da percepção e da memória; são empíricas e
se referem a coisas que poderiam ser diferentes do que são, porque há uma causa
para que sejam como se apresentam. Por exemplo, quando digo "esta rosa é
vermelha", nada impede que ela pudesse ser branca ou amarela, mas ela é
vermelha é porque alguma causa a fez ser assim e uma outra causa poderia tê-la
feito amarela. A cor possui uma causa necessária, e não é acidental que tenha
cor.
As verdades de fato são
verdades porque para elas funciona o princípio da razão suficiente. Tudo o que
percebemos e que temos experiência possui uma causa determinada que pode ser
conhecida.
Para o filósofo David
Hume, o princípio da razão suficiente é exclusivamente um hábito obtido por
experimento como decorrência da repetição e da constância de nossas impressões
sensoriais.
A crítica de Hume à
causalidade e ao princípio da razão suficiente leva à resposta de Kant.
4.2
A solução kantiana
A resposta ao problemas
do inatismo e do empirismo oferecida pelo filósofo alemão Immanuel Kant,
séculos depois de David Humer, no século XVIII, é conhecida de "revolução
copernicana" em filosofia, que demonstrou que o sistema geocêntrico era
falso e que:
a) o mundo não é finito, mas é um Universo
infinito;
b) os astros não estão presos em
esferas, mas fazem um movimento cuja forma é a de uma elipse;
c) o centro do Universo não é a Terra;
d) o Sol não é um planeta, mas uma
estrela, e a Terra, como os outros planetas, gira ao redor dele;
e) o próprio Sol também se move, mas
não em volta da Terra.
Baseado nessas
revelações, Kant dizia que todo inatista e empirista parecem ser como
astrônomos geocêntricos, buscando um centro que não é verdadeiro, como se
quisessem assar um frango, querendo que o forno girasse em torno dele e não o
frango em torno do fogo.
Antes de tudo, em vez de
estudar o que é a própria razão e indagar o que ela pode e não pode conhecer,
em vez de procurar saber o que é verdade, os filósofos preferiam começar
dizendo o que a realidade é, afirmando que ela é racional e que pode ser
inteiramente conhecida pelas idéias da razão. Em vez de colocar no centro a
realidade objetiva ou os objetos do conhecimento, afirmando que são racionais,
comecemos colocando no centro a própria razão.
A razão é uma estrutura
vazia, uma forma pura sem conteúdos. Essa estrutura é a mesma para todos os
seres humanos e é inata, porque não depende da experiência para existir, ou
seja, é anterior à experiência.
O engano dos inatistas é
supor que os conteúdos ou a matéria do conhecimento são inatos. Não existem
idéias inatas. Já o engano dos empiristas é supor que a estrutura da razão é
adquirida por experiência ou causada por ela. As experiências não são causas
das idéias, mas é a ocasião para que a razão as formule.
O erro dos inatistas e
empiristas foi o de supor que nossa razão alcança a realidade em si. Para um
inatista como Descartes, a realidade é espacial, temporal, qualitativa,
quantitativa, causal. Para um empirista como Hume, a realidade em si pode ou
não repetir fatos sucessivos no tempo, pode ou não repetir fatos contíguos no
espaço, pode ou não repetir as mesmas seqüências de acontecimentos.
Hegel criticou o
inatismo, o empirismo e a solução kantiana, afirmando de não haver compreendido
o que há de mais fundamental e de mais essencial à razão: a razão é histórica.
Hegel considerou que as idéias só seriam racionais e verdadeiras se fossem
intemporais, perenes, eternas, as mesmas em todo tempo e em todo lugar. Uma
verdade que mudasse com o tempo ou com os lugares seria mera opinião ("eu
acho que", "eu gosto de") e não seria verdade ("eu penso
que", "eu sei que", "isto é assim porque").
Para Hegel, a razão é:
a) o conjunto das leis do pensamento (os
princípios, os procedimentos e as estruturas para pensar) - a razão subjetiva;
b) a ordem, a organização, o encadeamento
e as relações das próprias coisas - a razão objetiva;
c) a relação interna e necessária
entre as leis do pensamento e as leis do real - unidade da razão subjetiva e da
razão objetiva.
Em cada momento de sua
história, a razão produziu uma tese a respeito de si mesma e, logo a seguir,
uma tese contrária à primeira ou uma antítese. Cada tese e cada antítese foram
momentos necessários para a razão conhecer-se cada vez mais, mas a razão não
pode ficar estacionada nessas contradições que ela própria criou, e sim,
precisa ultrapassá-las numa síntese que una as teses contrárias, mostrando onde
está a verdade de cada uma delas e conservando essa verdade. Essa é a razão
histórica.
5 A RAZÃO NA FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA
5.1
A razão histórica
Nem
todos os filósofos aceitaram a solução hegeliana para as dificuldades criadas
para a razão com o conflito entre inatismo e empirismo. O filósofo alemão
Edmund Husserl descreveu as estruturas da consciência através da fenomenologia, cujos conteúdos são
produzidos por ela mesma, independentemente da experiência. Husserl manteve o
inatismo, mas com as contribuições trazidas pelo kantismo.
Husserl afirma que o
"mundo" ou "realidade" não é um conjunto ou um sistema de
coisas e pessoas, animais e vegetais, e sim, um conjunto de significações ou de sentidos que são produzidos pela
consciência ou pela razão. A razão "constitui a realidade" enquanto
sistemas de significações que dependem da estrutura da própria consciência.
Significações essas que não são pessoais, psicológicas, nem sociais, mas
universais e necessárias. Elas são as essências,
o sentido pessoal e intemporal que
só existe para e pela consciência.
Por exemplo, a razão não
estuda os conteúdos psicológicos de minha vida pessoal, mas questiona sobre a
vida psíquica, o que são e como são a memória, a imaginação, a sensação e a
percepção.
5.2
Razão e sociedade
Outros
filósofos adotam a solução hegeliana, diferentemente da fenomenologia, mas com
uma modificação fundamental. Para eles, o engano de Hegel está na suposição de
que a razão seja uma forma histórica autônoma e na suposição de que a razão é a
força histórica que cria a própria sociedade, a política e a cultura. Para os filósofos
Theodor Adorno, Hebert Marcuse e Max Horkheimer, Hegel está correto quando
afirma que as mudanças históricas sucedem pelos tumultos e contradições, mas
está iludido ao desconfiar que tais tumultos se dão entre distintas figuras da
razão, pois eles se dão como tumultos e contradições sociais e políticas,
modificando a própria razão.
Cada nova forma da
racionalidade é um triunfo sobre os tumultos das formas anteriores, havendo
mudanças no pensamento através das mudanças sociais, políticas e culturais,
sendo essas mudanças a solução no presente para os conflitos e contradições do
passado.
Os inatistas se enganam
ao deduzir que os conteúdos da razão são imutáveis e os empiristas se enganam
ao deduzir que as mudanças são originadas por nossas experiências, quando são
produzidas por transformações globais de uma sociedade.
5.2
Razão e descontinuidade temporal
Na década de 60, foi
desenvolvida uma corrente científica chamada estruturalismo, onde o mais importante não é a mudança ou a
transformação de uma realidade, as a estrutura
ou a forma que ela tem no presente, porque as estruturas passada e futura são
diferentes entre si e diferente da estrutura do presente, sem interesse de
acompanhar temporamente a passagem de uma para a outra.
A solução helegiana
revela uma concepção cumulativa
(batalha interna entre teses e antíteses que vai sendo enriquecida) e otimista (a razão supera a si mesma em
suas contradições internas, chegando a uma síntese harmoniosa).
A teoria da
relatividade, por exemplo, elaborada por Einstein, não é continuação evoluída e
melhorada da física clássica, formulada por Galileu e Newton, mas é outra
física, com conceitos, princípios e procedimentos completamente novos e
diferentes. Cada física tem seu sentido e valor próprio. Não há novidades, e
sim, continuidade e avanço, passando a ser diferentes das outras porque se
baseiam em princípios, interpretações e conceitos novos.
Em cada período de sua
história, a razão inventa protótipos explicativos para os acontecimentos ou
para os objetos do conhecimento, não havendo comparação entre eles. A razão
grega é diferente da medieval, que é diferente da renascentista e da moderna,
que é diferente da iluminista, que é diferente hegeliana, que é diferente da
contemporânea.
5.3
Razão e realidade
As teorias racistas se
apresentam usando princípios, conceitos e procedimentos científicos: fazem
pesquisas biológicas, genéticas, químicas e sociológicas; usam a indução e a
dedução; definem conceitos; inferem conclusões obtidos por experiência, etc.
Até conseguir provar que:
a) existem raças;
b) as raças são biológicas e
geneticamente diferentes;
c) há raças atrasadas e adiantadas,
inferiores e superiores;
d) para o bem das raças inferiores e
das superiores deve haver segregação racial para não haver influência umas
sobre as outras;
Ora, a razão pode
demonstrar que a "racionalidade" racista é irracional e que está a
serviço da violência, da ignorância e da destruição, baseada em provas:
a) Biologia e Genética - demonstram diferenças na formação
anatômico-fisiológica dos seres humanos e essas diferenças não produzem
"raças";
b) Sociologia, Antropologia e História - demonstram diferenças nas
condições ambientais, como são produzida as diferentes maneiras pelas quais os
grupos sociais definem as relações de trabalho, parentesco, formas de
avaliação, vestuário, habitação, etc.
c) Ciência Política e Econômica - demonstram diferenças entre grupos e
classes sociais, formados a partir da apropriação de riquezas e do poder,
colocando outros grupos e classes sociais sob sua dominação e justificam essa
atitude com a convicção de que tais grupos e classes são inferiores;
d) Psicologia - demonstra diferenças entre manifestações sociais de
uma cultura, mesmo que as capacidades mentais sejam iguais, baseada nos modos
de vida, de trabalho, de acesso à escola e à educação forma, das crenças
religiosas, de valores morais e artísticos diferentes, etc.
Essas diferenças não
formam "raças", portanto "raça" é uma palavra inventada
para:
a) avaliar, julgar e manipular as
diferenças biológicas e genéticas;
b) avaliar, julgar e manipular as
diferenças sociais e históricas;
c) legitimar a exploração e a
dominação que um grupo social e político exerce sobre os outros grupos;
d) transformar as diferenças em
justificativas para discriminações e exclusões.
A Filosofia, recolhendo
fatos, dados, resultados e demonstrações feitos pelas várias ciências, pode,
então, concluir dizendo que a teoria do racismo é falsa, não é científica e é
irracional e que a teoria "científica" do racismo é uma prática
econômica, social, política e cultural para justificar a violência contra seres
humanos e, portanto, é inaceitável para as ciências, para a Filosofia e para a
razão.
Uma "razão"
racista não é razão, mas ignorância, preconceito, violência e irrazão.
6 CONCLUSÃO
A
razão pode ser considerada como uma capacidade que o ser humano possui de
organizar a realidade na qual ele vive, fazendo com que estas se transformem em
uma coisa compreensível e capaz de ser organizado. A razão pode ser considerada
também como aquela capacidade de organização e ordenamento das coisas de acordo
com as suas próprias capacidades de serem organizados e ordenados, contudo,
ainda sendo compreensíveis nelas mesmas e por elas mesmas. Isto significa que
as próprias coisas as quais organizamos já são racionais.
Através
da coerência interna de um pensamento ou de uma teoria também nos ajuda a
perceber os objetivos da razão. A razão
tem por escopo estudar todos os conteúdos psicológicos, se indagando sobre
determinadas situações ou coisas. A razão
procura descrever o sentido da memória, da imaginação, da sensação, assim como
a percepção. A razão procura
investigar os maiores detalhes de nossas experiências pessoais encontrando as
melhores e mais convenientes respostas possíveis para nossas indagações. A razão pode ser encontrada através da
resposta de perguntas, pois estas respostas podem ser consideradas como a
maneira que o ser humano encontrou para se adaptar a realidade. A fenomenologia não admite que a razão mude
com o passar do tempo e nem no tempo; ela permite que se enriqueça e se amplie
com o passar do tempo, mas nunca se muda.
7 REFERÊNCIAS
CAF.
A razão da Filosofia e a Filosofia da
razão. Publicado em 14 de julho de 2009. Disponível em <http://www.jn.pt/blogs/caf/archive/2009/07/14/a-raz-195-o-da-filosofia-e-a-filosofia-da-raz-195-o.aspx>.
Acesso em 21 de abril de 2011
CHAUÍ,
Marilena. Convite à Filosofia. Ed.
Ártica, São Paulo, 2000.
HENRIQUE,
Thiago. Filosofia - Aula 8 - Capítulo 6. Lógica e Epistemologia. Publicado em
01 de novembro de 2009. Disponível em <http://www.cursinhometamorfose.com.br/portal/node/118>.
Acesso em 21 de abril de 2011.
SILVA,
Josué Cândido da Silva. Aristóteles e o
papel da razão. Ilheus, Bahia. Disponível em <http://educacao.uol.com.br/filosofia/aristoteles-e-o-papel-da-razao-nada-esta-no-intelecto-antes-de-ter-passado-pelos-sentidos.jhtm>.
Acesso em 21 de abril de 2011.
WIKIPEDIA.
Razão. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Raz%C3%A3o>.
Acesso em 21 de abril de 2011.
Nenhum comentário:
Postar um comentário