UNIDADE
DE ENSINO SUPERIO DE FEIRA DE SANTANA – UNEF
CURSO
DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS
ÉTICA
E CIDADANIA
PROFª.
GILSIMAR CERQUEIRA
12
ABR. 2012
EBERVAL CALAZANS SANTOS E LÍVIA A.
ANDRADE
OS
PARADOXOS DA CIÊNCIA E DA MORAL
ESPÍNDOLA, Arlei. Jean-Jacques Rousseau: ciência,
progresso, e corrupção moral. São Paulo: Argumentos, 2012.
Arlei
Espíndola, Professor de Graduação e do Programa de Mestrado em Filosofia da
Universidade Estadual de Londrina, Paraná, também Mestre e Doutor em Filosofia
pela UNICAMP/SP, desenvolveu um artigo culto progressivo sobre o conhecimento e
o âmbito moral, político e econômico sob as vistas holísticas e agressivas de
Jean-Jacques Rousseau. Seu objetivo atinge questionamentos radicais a respeito
dos paradoxos dos conceitos de liberdade, moral e igualdade, como também
desperta ao leitor tanto ao sentimento de prisão dentro de si quanto à
liberdade num mundo quase inexistente.
O
autor traça uma linha tênue que descreve perfeitamente a margem transcendental
dos enigmas que vai desde o sentimento de negativismo interior ao positivismo
não externado e reprimido pelo medo, oprimido pela sociedade, deprimido pela
impotência de agir, comprimido pela política cultural e imprimido em sua forma
de falso moral. Espíndola cita Rousseau no Discurso
sobre as ciências e as artes na parte em que denuncia “a dissolução dos
costumes, com o estabelecimento da mentira, da falsidade, do porte de máscaras”
(ESPINDOLA, 2012, p. 90) e mesmo assim o admira por ele admitir que “se conta
com perfeita compatibilidade entre ciência e virtude” (ESPINDOLA, 2012, p. 90).
A virtude o qual o autor se refere é o conhecimento híbrido, insaciável,
conceituoso da verdadeira razão, imparcial, saudável, ilimitado, respeitoso e
que alimenta o espírito, sendo ela “uma produção humana boa em si mesma”
(ESPINDOLA, 2012, p. 90).
O
autor cita sua controvérsia sobre a ciência ao perceber que Rousseau teme o
conhecimento de forma primitiva, podendo abrir espaço para o descontentamento e
acender uma desarmonia e tensão entre racionalidade e felicidade. Nesse momento
o exercício do espírito condiz-se com a natureza humana, na busca da felicidade
dentro do âmbito social que se encontra em sua relação com os ditames da
natureza, na busca de perguntas sobre as coisas relacionadas a eles mesmos,
porque tanto o corpo quanto o espírito tem suas necessidades. Apesar do medo, o
ser humano é muito curioso, e pode estar em busca de vãs e infrutíferas
especulações, desperdiçando seu tempo com o abstrato da filosofia genérica em
vez de apetecer-se do substantivo concreto e entender as exigências definidas
pela natureza.
Espíndola
atenta para a reflexão sobre a riqueza intelectual versus a riqueza material, o
qual esse último é o peso que se estende na proporção em que a participação
inteligente no bloqueio ao conhecimento favorecido manifesta através dos
caminhos desvirtuosos da ganância. A inteligência é usada de forma sábia para
gerar o luxo, mas perde-se quando a busca pelo luxo sobrepõe a aplicação da
inteligência. O pré-conceito batizado à cultura, atrelada às artes e até mesmo
às ciências, associada ao luxo, limita o acesso aos homens que exercitam sua
moral na deriva do transparecer do que é requintado, dado de herança aos
inteligentes. O autor esclarece: “habitualmente, o luxo costuma andar passo a
passo com o cultivo das ciências e das artes, sendo difícil até mesmo ambos
aparecem separados um do outro” (ESPINDOLA, 2012, p. 95). Isso dá ao homem a
liberdade para construir o comércio, na busca frenética pelo luxo, pelo
dinheiro, pelo acúmulo desmedido de propriedades; ao mesmo tempo, o despotismo
religioso dá ao homem a sensação de prisão, de impotência em construir seu
templo, e tenta encaixar o luxo nos caminhos eclesiásticos para que não
reconheça que tudo que for promovido pela indústria da riqueza e do comércio seja
quimeras, seja meras necessidades artificiais.
O
autor cita Voltaire em seu paradoxo, que oras julga o luxo como ser tudo para o
homem e para a construção da liberdade e da grandeza do Estado, oras julga o
luxo como algo supérfluo, utilizada somente para a prisão de desejos
desnecessários e elevação do Estado.
Segundo
o autor,
“Rousseau considera que o luxo carrega consigo um
terrível paradoxo visto que até pode revelar um quadro de riquezas, e servir,
inclusive, para multiplicá-las. Mas qual lugar é reservado à virtude e a
honestidade , entretanto, se é imposta a lógica, arbitrariamente, de
enriquecer-se a qualquer preço? Tal forma impositiva torna o luxo o grande
responsável pela dissolução completa dos bons costumes e pelo desaparecimento
da paz entre os homens na sociedade” (ESPINDOLA, 2012, p. 97).
Entretanto
o autor considera que é mais válido conservar os cidadãos no tempo e
revelar-lhes virtuosos do que se fazerem espetaculosos e populares, porém
vulneráveis, e que o dinheiro não seja o catalisador dominante no seio da
sociedade. Espíndola sugere que as influências também provêm da padronização da
cultura, das produções artísticas, dos costumes e da união de pessoas através
de suas semelhanças nas preferências. Porém o desprezo da virtude reduz o
reconhecimento e importância da figura cidadão e homem útil no espaço público,
gerando a desigualdade social.
O
autor deixa mais um paradoxo baseado no diagnóstico parcial de suas conclusões
sobre o valor agregado à riqueza material e a desvalorização agregada à riqueza
intelectual, forças construtoras do espaço que une as vantagens e os dissabores
da cultura que favorece o Estado, sendo “esse mundo que tanto incentiva a
indústria, o comércio, o dinheiro, o lucro, o luxo, o requinte, as
superfluidades, faz mesmo crescer o contingente de pobres e marginalizados(...)”
(ESPINDOLA, 2012, p. 100).
É
importante como se aplica o conhecimento do estudo social, do comportamento
psico-cultural humano, do comportamento sócio-econômico e da conduta espiritual
para definir o bem-estar de uma sociedade, revelando os paradoxos de forma nua
e crua nesta guerra de pré-conceitos do que é bom ou ruim, do que é certo ou
errado, do que é ético ou imoral. A liberdade se conclui na felicidade do homem
em estar satisfeito, longe do julgamento dos outros, nos limites impostos por sua
natureza humana, sem que esse agrida a de outros; está no melhor da utilização
de sua inteligência para progredir espiritualmente, aceitando todos os fatos
como uma fase mutável de sua vida.
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