segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

RESENHA SOBRE NEWTON E A NOVA FÍSICA


O Ponto de mutação: a ciência, a sociedade e a cultura emergente

Fritjof Capra
São Paulo, Editora Cultrix, 1981

Na obra de Fritjof Capra, ou autor faz uma extensão de sua visão de realidade para as ciências humanas, comparando o pensamento do sistema filosófico de Descartes a algo que serve de exemplo geral emergente no século XX em vários campos da cultura ocidental atual, como a medicina, a biologia, a psicologia e a física.

Baseado nos capítulos 2 (“a máquina do mundo newtoniana”) e 3 (“a nova Física”), o autor relata a mudança cultural da ciência sob a influência dos grandes filósofos e cientistas que viveram entre 1500 e 1700, época em que “ouve uma mudança drástica na maneira como as pessoas descreviam o mundo e em todo o seu modo de pensar” (pag. 49).

No segundo capítulo, é apresentada a visão épica do mundo sob a influência da nossa cultura social e religiosa, e que foi radicalmente transformada pela tese de que o mundo é uma máquina, defendidas por Copérnio, Galileu e Newton. Segundo Capra, esses ocasionaram mudanças revolucionárias na física e na astronomia, culminando novos métodos de investigações, defendidos rigorosamente por Francis Bacon, o qual envolvia a descrição matemática da natureza e o método analítico de raciocínio concebido pelo gênio de Descartes, criando, assim, a Idade da Revolução Científica.

Esse mesmo capítulo cita os estágios da revolução científica, que corria de encontro com a concepção geocêntrica da Bíblia, gerando conflitos de crenças e hierarquia social. O autor relata de forma precisa a visão dos filósofos que torturavam a natureza para extrair suas respostas, até a manifestação de John Locke, que propôs uma ciência mais humana e crente das teorias religiosas. É a partir daí que a religião e a ciência, mesmo uma se opondo à outra aparentemente, se associaram. O autor deixa claro que os cientistas acreditavam em Deus, mesmo provando a auto-suficiência da natureza e do homem.

Fazendo uso dos conceitos Yin e Yang da cultura chinesa, Capra avalia as conseqüências da utilização indiscriminada desse paradigma “cartesiano-newtoniano” como um desenvolvimento excessivo da componente Yang em nossa cultura, quebrando o desejável equilíbrio dinâmico entre esses dois componentes.

Ainda nesse capítulo, o autor tem uma visão otimista da evolução científica, mesmo relatando a parte obscura e deprimente da exploração dos cientistas, quando ele cita: “o que todos esses processos têm em comum é que avançam numa certa direção – da ordem para a desordem (...) sempre crescente” (pag. 68). Essa é a parte mais interessante da descoberta, quando achamos que podemos seguir adiante com nossa tese, acreditando que um ponto final já foi dado, contudo sem imaginar que alguém virá dissecar e provar algo parcial ou totalmente diferente do que pregamos, desordenando nossas paredes para um conhecimento mais claro e firme.

Capra ainda afirma que “a formulação do conceito de entropia e a segunda lei da termodinâmica estão entre as mais importantes contribuições para a física no século XIX” (pag. 68).

No terceiro capítulo, o autor cita uma nova mudança na visão dos cientistas com surgimento da teoria espacial da relatividade: “a nova física exigia profundas mudanças nos conceitos de espaço, tempo, matéria, objeto e causa e efeito” (pag. 72). Com uma explicação detalhada e quase profunda sobre a reação dos átomos, Capra nos leva ao entendimento que nenhuma estrutura da natureza é estática, e sim, todas as estruturas vivem num estado de contínuo movimento dançantes e vibrantes. As convicções e escolhas pessoais do autor o influenciou a apresentar a Física com ênfase em conceitos e teorias que ainda não são aceitos pela maioria dos físicos, mas que o considera importante para nossa cultura como um todo.

Esses capítulos tratam-se, portanto, de pesquisas importantes para os envolvidos com a Física, a Química, a Biologia e a Bioquímica, tanto no mundo acadêmico quanto nas áreas de pesquisas específicas, visando ajudar cientistas e não-cientistas a mudarem sua filosofia, a fim de participarem da atual transformação cultural. Fritjof Capra defende que são necessárias mudanças rápidas nas atitudes para que se possa contornar os grandes problemas e nos traz uma obra de sensibilidade e reflexão sobre as bases da existência e da integração do pensamento e das ações humanas no contexto do desenvolvimento, na busca da equação da vida e do progresso equilibrado e sustentado.

Além de interessante, esses capítulos servem para esclarecer as mudanças no mundo filosófico e físico ao longo da virada do século XIX ao século XX, e nos desperta a curiosidade em conhecer mais fundo esses fantásticos fenômenos do mundo com olhos mais clínicos, voltados para a ciência em sua amplitude e magnetismo.

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